terça-feira, 19 de julho de 2011

Антон Павлович Чехов (Tchekov) 29/01/1860-14/07/1904


Tchekov (1860-1904)

Tradição literária  russa do século XIX  (REALISMO)

            Entende-se por tradição literária russa do século XIX a soma de traços característicos da cultura literária russa daquele período, que recebeu o nome de realismo russo. A tradição do realismo russo centrava a atenção na permanente ambiguidade da visão de mundo e nas dimensões mais complexas e profundas do homem russo.
            O universo da cultura literária russa contém nos romances, na poesia, na novela e no teatro a inquietação da consciência individual e coletiva, de modo que o realismo da literatura russa, desde os primórdios do século XI e no curso da evolução, principalmente no século XIX, buscava com penetrante vigor a verdade dos valores, a sutileza da vida humana e sua profunda complexidade.
            Nesse período, articula-se o traço bem marcante do caráter nacional, que não se define pelas descrições dos trajes, mas pela expressão do espírito da nação, fazendo com que a obra literária reflita a linguagem do homem e do escritor se relacione diretamente com a própria época.
            A mistura geralmente chamada de realismo é a forma mais importante da literatura moderna, pois acompanha as rápidas transformações da vida, abrangendo a totalidade das mudanças na sociedade, permitindo aos homens uma visão da realidade concreta e oferecendo-lhes a consciência do que são. Por isso, a originalidade e a novidade da dramaturgia tchekoviana residem na dinâmica do dramatismo interior, O estado de ânimo das personagens, os anseios e reflexões, as emoções e conflitos, ou seja, a vida interior prevalecerá à dinâmica d ação, atmosfera reinante em detrimento das intigas que impulsionam a ação.

Momento Histórico:
Fatos marcantes na Rússia no século XIX e XX:

            A Rússia vive a experiência histórica da modernidade tardia do ocidente na segunda metade do século XIX. A ruptura da estrutura semifeudal, com a lei da abolição dos servos, promove transformações em todos os níveis da realidade do país. A tecnologia, a economia, a indústria e as pesquisas científicas se desenvolvem em larga escala. A ciência, portanto, viveu na Europa e na Rússia uma era dourada no século XIX.        

Breve caracterização da arte literária de Tchekov

            A principal conquista literária do século XIX foi a inclusão da realidade cotidiana como temática que se difundiu no romance e no conto realista, com efeitos também no teatro e na poesia lírica.
            Na literatura mundial, Tchekov é com frequencia apontado como inovador de dois gêneros: como mestre do conto, sobretudo o conto curto, e como um dos fundadores do teatro moderno.
            De acordo com Mariz (2009) além de ele “ser considerado percursor da arte literária moderna, pela maneira de construir a narrativa”, é também fundador da dramaturgia contemporânea.
            O estilo dele se caracteriza pela economia da linguagem. Os enredos privilegiam a vida interior das personagens em detrimento de ações exteriores. A trama concisa oferece a possibilidade de destaque aos sentimentos contidos e aos sentidos ocultos em meio à construção de atmosferas de sensações.
            Tudo se dá na aparente banalidade. O trágico se faz presente no dia-a-dia de cada um, o acaso interfere decisivamente. A banalização da tragédia ocorre pela apreensão do trágico, não como algo terrível excepcional, mas como ordinário e cotidiano, que destrói a personagem, gradativamente, de maneira quase imperceptível. Quanto à fala dos heróis, estas são entrecortadas e predominam os pensamentos fragmentados.
Aparentemente, em nome da objetividade que tenta apreender a vida tal como ela é na realidade. Ele compõe uma narrativa que parece contar-se por si própria, sem elos causais rígidos, prevalecendo a percepção de uma personagem, sem intervenções avaliadoras explícitas, sem resultados finais por parte do autor.
            Esse escritor criou o próprio estilo por meios surpreendentemente econômicos. A frase simples e concisa, com detalhes sugestivos imprevistos que recria a totalidade de uma cena ou transmite a sensação de um momento passageiro. A sua longa prática de escrever contos curtos, humorísticos e satíricos, fez com que ele elaborasse a técnica de concisão e a capacidade de delinear a característica de um personagem apenas por alguns traços. Outra particularidade dos seus contos é o humor triste e melancólico.
            Ele interessava-se pelos dramas e tragédias que ocorriam no interior das casas, não importando se é numa casa rica, de classe média ou pobre. Sua obra, tomada em conjunto, forma um amplo panorama da sociedade russa das duas últimas décadas do século XIX e início do século XX.
            Na dramaturgia, um de seus recursos é o retardamento da ação e a falta deliberada de situações conflituosas e dramáticas. Ele reproduz a vida habitual das pessoas no seu fluir, sem grandes tensões e desenlaces, procurando, assim, desvendar o mundo interior dos personagens. Isto pode ser visto nas suas peças mais famosas: Tio Vânia, O jardim da cerejeira, As três irmãs, A gaivota. Também encontramos o mesmo recurso em alguns de seus contos-Vérotchka (personagens Vera-apaixonada e não correspondida por Ivan Ogniov). Neste conto Tchekov retarda a ação para mostrar os processos psicológicos dos personagens.
            O estilo de Tchekov caracteriza-se pela simplicidade e pela exatidão na escolha das palavras. Ele não usa palavras difíceis nem construções rebuscadas.
            Tchekov foi o primeiro dramaturgo que fez passar a atenção do espectador para o caráter dos personagens, para seus relacionamentos e além do mais, para os relacionamentos que não se manifestam nas situações exclusivas, mas no encaixe de causas comuns da vida cotidiana.
            Outro tema muito frequente na obra de Tchekov é a crítica que ele faz à vulgaridade, à mentalidade tacanha, ao vazio do estilo de vida dos burgueses, em especial nas cidades pequena e médias da Rússia. Na categoria de burguês ele engloba tanto a classe média quanto muitos representantes da nobreza. Alguns dos seus personagens têm consciência disso e sofrem, como aristocrata Dmitri Gurov do conto A dama do cachorrinho, e alguém tipicamente da classe média, como o médico Ionytch, antes dele mesmo se transformar num burguês.
            Um dos temas chave da criação literária tcheckoviana, que a partir deste momento começa a adiquirir uma importânica cada vez maior, o  tema da felicidade do homem. Os personagens não tem uma ideia clara sobre a felicidade, mas sentem um profundo descontatamento da vida, dão por perdida inutilmente e este é o primeiro passo para buscá-la. Nos contos A felicidade (1887) e A estepe (1888).
            Os contos da primeira metade dos anos 90 praticamente se generaliza a imagem da vida como uma mistura feitos irracionais, absurdos quase fantásticos. O duelo (1891).








            

quarta-feira, 6 de julho de 2011

TEMA: PEQUENO HOMEM DA LITERATURA RUSSA NO SÉCULO XIX



 
INTRODUÇÃO
           
            O tema  do pequeno homem já existia na literatura russa desde o século XII com autores anônimos. Na literatura do fim do século XVIII este tema é abordado por Nikolai Mikhailovitch Karamazin (1766-1826) ao escrever Bednaia Liza- Pobre Liza. Essa novela é considerada a mais notável obra sentimental russa do século XVIII. Karamazin foi um dos mais influentes escritores da prosa russa do século XVIII (Grande parte de sua vida ele devotou a escrever os doze volumes de sua monumental História do Estado Novo). Em Pobre Liza, Karamizin procura pôr em evidência o valor do ser humano recorrendo a uma personagem da mais baixa extração social. Ao representar o amor proibido entre uma jovem camponesa e um rapaz nobre, toma para si a tarefa de demostrar à sociedade que a capacidade de amar de um servo em nada se diferencia a de um nobre, o que provocou na época uma grande repercussão.          

ENREDOS:             
            Em 1830,  Puskin escreve O Chefe da Estação. Essa obra é considerada verdadeiramente o marco desse tema. Puskin inseriu na literatura russa a temática do pequeno homem e a relação entre pais e filhos. A figura central dessa novela não é Dúnia, mas seu pai (narrador/personagem) e o sofrimento desse pela perda da filha. Na história, Dúnia foge com o jovem viajante hussardo. O pai sofre com o sumiço dela e vai procurá-la, porém quando a encontra, se decepciona por ela ter virado concubina do hussardo e no fim morre de desgosto. Durante a narrativa o narrador nos conta a parábola do filho pródigo. Ao contrário deste, Dúnia não abandona a sua casa por vontade própria, é o pai que involuntariamente a lança nos braços do hussardo. Numa inversão dramática da parábola, Dúnia volta para casa trajada de luxo e demostrando atingir muita prosperidade. Ela aparenta estar plenamente realizada tanto no nível social como econômico. Ao desmanchar as regras do jogo (parábola), o autor oferece em troca uma nova leitura, criativa, surpreendente, opondo a estética do clichê, da repetição, uma estética da oposição, a recusa da norma. É importante comentar também que o autor não toma um posicionamento entre o pai ou a filha. Apenas descreve as emoções que eles vivem.
            O capote, de Gogol, possui um enredo bastante simples. Um funcionário público da Rússia czarista – Akáki Akákievitch Bachmátchkin (SAPATEIRO–NOME CARICATURAL) vê-se compelido pela necessidade a adquirir um novo capote (casaco reforçado para baixas temperaturas). Com a remuneração irrisória que recebe, grandes são suas economias até conseguir juntar a soma necessária à confecção do agasalho. Depois de conseguir o capote, utiliza-o apenas um dia, pois o mesmo é levado por assaltantes. Desespera-se, busca o auxílio das autoridades para reaver a peça, mas seus esforços acabam em vão. Debilitado física e emocionalmente, adoece e acaba por falecer. Após algum tempo, ressurge como fantasma, que vagueia pela cidade em busca do casaco roubado. Aparentemente, a alma penada sente-se vingada ao assustar e levar o capote de um importante funcionário público, que em vida lhe negara ajuda, encontrando então seu descanso.
            Gente Pobre é o primeiro romance escrito por Dostoieviski em 1846. O enredo se baseia na troca de cartas entre os personagens Makar Dievuchkin, funcionário simplório de uma repartição pública de Petersburgo, e sua vizinha Varvara Alieksiêievna, uma jovem órfã injustiçada. É importante comentar também que o sobrenome do protagonista Dievuchkkin se origina da palavra “dievuchka”- moça que marca desde do começo a suavidade e a delicadeza do personagem.

RELAÇÃO ENTRE GENTE POBRE (DOSTOIEVISKI), POBRE LIZA (KARAMZIN), O CHEFE DA ESTAÇÃO (PUSCHKIN), O CAPOTE (GOGOL)

            O romance Gente Pobre (1846) pode ser lido como um diálogo entre o período gogoliano dos anos de 1840 e outros períodos da literatura russa, a começar por Karamzin. Esse romance faz alusão ao protesto social, o elemento próprio da “escola natural”, além de uma continuidade da tradição humanista preparada pela evolução das descobertas de Pusсhkin e das buscas posteriores de Gogol no que diz respeito ao tema do pequeno homem. Gente Pobre foi considerada uma das obras que melhor expressavam as premissas do realismo russo defendidas pela “escola natural”. Tudo neste romance, desde o título, os heróis, o tema, estava de acordo com o espírito da escola. O romance resulta, portanto, numa reflexão do período da literatura russa que vai desde o sentimentalismo com suas raízes em Pobre Liza, de Karamzin (1792), até a escola natural.
           Nesse seu primeiro romance, Dostoieviski cita os contos O chefe da estação e O capote de Puschkin e Gogol, respectivamente. Dessa forma, Dostoieviski indica quem foram os seus mestres.  Nesse período, portanto, o autor é influenciado pela temática do pequeno homem de O chefe da estação e O capote, pois Pobre Gente é um diálogo entre Puchkin e Gogol.
           A ideia  e o significado social da obra, no entanto, desvendavam o sentido da vida sob um novo ponto de vista, já que Dostoieviski não se contentou com as soluções a que se propuseram seus antecessores. Ele não se contenta com a representação do destino de uma existência sem atrativos, do infortúnio social do homem pobre, ele procura mostrar um ser pleno, capaz de pensar e sentir, e mesmo de agir, da maneira mais profunda, apesar da sua pobreza e humildade social. Assim, autor situa o tema da dignidade humana dos mais pobres por meio da imagem interior de um homem que se encontra à beira da miséria, mas nem por isso deixa de se revelar uma criatura excepcional. A intenção do autor, na representação do cotidiano de seu  personagem em sociedade, é demonstrar, por meio da imagem que ele tem de si mesmo, que sua miséria exterior espelha o que lhe vai nas profundezas do coração. Dostoieviski pega a personagem criada por Gogol, mas a apresenta do ponto de vista da personagem puskhiana. Com isso, Dostoieviski revela um princípio básico de orientação de seu projeto artístico no modo de representação do ser humano. Como ele mesmo expôs numa carta escrita a seu irmão:
“Eles não entendem como é possível escrever com tal estilo. Eles se acostumaram a ver em tudo a cara do criador; a minha, no entanto, eu não mostrei. E eles não conseguem perceber que é Dievuchkin quem fala, e não eu, que Dievuchkin não conseguiria falar de outra maneira.”
            Ele mostra a própria essência de seu método de criação, ou seja, Dostoieviski, nesse seu primeiro romance, não representa o funcionário pobre, mas a autoconsciência dele. Aquilo que se apresenta no campo de visão de Gogol como conjunto de traços objetivos que se constituem no sólido perfil sociocaratereológico da personagem é introduzido por Dostoieviski no campo de visão da própria personagem, tornando-se objeto da sua autoconsciência.
            De um lado está a identificação e aceitação da história de “O chefe da estação”, de Puskin, por parte de Dievuchkin, como uma narrativa realista e compassiva com as vicissitudes de um funcionário pobre. Como, por exemplo, pode-se constatar tal fato no seguinte trecho (na página 88):
“se quer a minha opinião, minha amiguinha, a respeito do seu livro, o que tenho a dizer é que nunca em minha vida me aconteceu de ler um livro tão bom.” “Agora li “O chefe da estação aqui nesse seu livro; e uma coisa lhe digo, acontece mesmo de a pessoa viver sem saber que, ali do lado dela, tem um livro no qual tem toda a sua vida está exposta como o dedo da mão.”
            De outro lado está a sua rejeição a “ O capote”, pois Makar Dievuchikin leu O Capote de Gogol e ficou profundamente ofendido como pessoa. Reconheceu a si mesmo em Akakai Akakievtch e ficou indignado porque espiaram a sua pobreza, vasculharam e descreveram toda a sua vida, determinaram-no de uma vez por todas e não lhe deixaram nenhuma perspectiva. Dievuchkin  ficou especialmente indignado porque Akaki Akakievitch acabou morrendo como viveu. Dievuchkin se viu na imagem de Akaki Akakievitch sentiu-se irremediavelmente pretedeterminado e acabado, como que morto antes da morte. Essa revolta singular do herói contra o seu acabamento literário foi construído por Dostoieviski em formas primitivas moderadas da consciência e do discurso de Dievuchkin. Pode-se observar a indignação do personagem ao se espelhar em Akaki,nas páginas 93,94:
“A um foi determinado usar dragonas de general, a outro, a servir como conselheiro titular, a este a mandar, àquele a obedecer, submisso e amedrontado.” “Devia ter consciência disso tudo, minha filha, ele também devia sabê-lo; já que se pôs a descrever, então deveria saber tudo.”
            Nesta obra, Dostoieviski já começa a perscrutar o futuro tratamento radicalmente novo que dará ao herói. Como, por exemplo, pode-se citar: “Às vezes a gente se esconde, se esconde, se oculta, vez por oura tem medo de mostrar o nariz seja onde for porque treme diante dos mexericos, porque de tudo o que há no mundo, de tudo lhe forjam uma pasquinada então toda a sua vida civil e familiar anda pela literatura, tudo publicado, lido, ridicularizado, escarnecido.” (Dievuchkin-Gente Pobre)
            É interessante comentar sobre o título da obra Biednie Liudi (Gente Pobre).  Apesar de no original em russo estar na ordem direta, ele pode também ter outra conotação. É evidente seu paralelismo com título da novela Biednaia Liza, de Karamazin, na qual o adjetivo biedinie, além de se referir diretamente ao estado de pobreza material da personagem, remete ainda a um sentindo moral, de comiseração, pela grande compaixão que seu destino infeliz inspira no leitor.